20 fevereiro 2006

Poder e Jornalismo


É importante enfatizar que tomar-se-á o conceito de poder relacionado ao que uma pessoa ou grupo exerce sobre outra pessoa ou grupo.

“Os valores que até hoje fundamentam a atividade da imprensa nascem dos ideais revolucionários do liberalismo, em fins do século XVIII, quando se formula o moderno conceito de cidadania. É daí que decorre a noção de “quarto poder”, através da qual a imprensa aparece como salvaguarda das instituições, guardiã do interesse público contra os abusos do Estado.” 1


O livro Showrnalismo de José Arbex Jr. (Editora Casa Amarela) traz, logo no prefácio os seguintes dizeres:

“O que torna a mídia tão perigosa é a sua capacidade de andar de mãos dadas com o Estado, enquanto vendem a imagem de neutralidade, objetividade e democracia. É a sua capacidade de condicionar o imaginário, moldar percepções, gerar consensos, criar a base psicossocial para uma operação de grande envergadura, como a guerra.”


Essa postura da mídia de se “aliar” ao estado vai de encontro ao papel de guardiã contra os abusos do estado.

O poder é uma relação entre partes, portanto, o poder da mídia tem o respaldo da sociedade uma vez que aceitamos esse papel de guardiã que a imprensa exerce. A partir do momento que damos à imprensa o poder de vigiar, estamos automaticamente dando a ela o poder de coerção.
Para exercer o papel de guardiã da sociedade, a mídia deveria ser um reflexo da sociedade e, assim, ser a mediadora entre as partes provocando a interação entre as mesmas. Entretanto, a mídia com o sua capacidade discursiva extrapola a reflexão e se utiliza da interferência que seu discurso pode provocar.

Nos dias de hoje o fetiche pela informação veloz , em tempo real e o enorme fluxo de informação tem alimentado o poder da mídia. Além do mais, é facultada à imprensa a capacidade de garantir a veracidade das informações.

Por essas características a imprensa é tida como o “quarto poder”. Mas, a imprensa foi e tem ido além. Como se não bastasse vigiar a sociedade a imprensa se atreveu a punir.
A morosidade do poder Judiciário, aliado ao Marketing da notícia provocou um abuso do poder outrora concedido à imprensa.

Na ânsia pelo furo, pela notícia chocante o que se viu (e se vê) é o foco voltado para o conflito. O importante é atender às expectativas imediatas do leitor em detrimento à vigilância responsável da sociedade.

Esquentar manchetes utilizar-se de frases fora de contexto e saciar a sede do leitor por justiça fez com que a imprensa fizesse o julgamento e não a mediação.
O jornalista Luiz Nassif, em seu livro O jornalismo dos anos 90 (Editora Futura) aponta graves erros da imprensa.
O caso da Escola Base é um exemplo claro: A denúncia de que crianças sofriam abuso sexual de professores e funcionários veio à imprensa que simplesmente arrasou os envolvidos. Até hoje, doze anos depois, nenhuma prova foi encontrada contra os acusados. Estes ganharam indenização na justiça pela atitude irresponsável da imprensa que culminou no fim da escola base e no linchamento moral de seus donos.

O caso do deputado Sérgio Naya é outro exemplo. O verdadeiro responsável pelo desabamento dos prédios era na verdade o engenheiro calculista, mas o dono da construtora, o então deputado Ségio Naya foi massacrado pela mídia alimentando o apetite voraz da sociedade por justiça e punição.

É assim que a imprensa tem agido: destruindo imagens e saciando o desejo de vingança ou justiça da sociedade.

Para encerrar segue o trecho de um artigo do professor e escritor da Universidade Federal de Santa Catarina Deonísio da Silva publicado no Observatório da Imprensa em 13 de novembro de 2002 retrata de forma sucinta o atual poder da imprensa.

"Suzane Louise von Richthofen, de 19 anos, acusada de matar os pais já foi julgada? Já. Pelo Judiciário? Não. Pela imprensa, o quarto poder, mas em muitos casos o primeiro, como sabemos, e contra o qual dificilmente cabe algum tipo de recurso".

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